Powered By Blogger

sábado, 28 de agosto de 2010

Música e a Arte de "Musicalizar"

História e mais histórias

Blog para quem deseja conhecer nosso trabalho e forma como desenvolvemos sistemas que explicam a utilização de ferramentas necessárias à compreensão do  material sonoro dos grandes improvisadores.

Penso que, atualmente, as publicações não satisfazem às necessidades dos que buscam a forma de ouvir ou pensar daqueles fenômenos do Jazz, da Música Erudita ou da Brasileira ( triste aqueles que se contentam com frases decoradas para cadências II V7 e se acham o máximo em termos de criatividade).

É louvável trabalhos como o do nosso ex- aluno e amigo Cesar Berton, Bacharel e Mestre pela UNICAMP. A partir de conceitos que mostramos foi capaz de reciclar ferramentas ótimas para músicos desesperados por material de apoio para a pesquisa.

Admiramos, idem, o trabalho do nosso ex- aluno , hoje brilhante músico compositor e ator, André Abujamra, pessoa  que arrisca sem medo.  E, por falar em pesquisa, idem a do Prof. Doutor Marcelo Gomes ( Unicamp) , do  Prof. Dr. Paulo  Tiné ( Unicamp).
Eles são exemplo para todos que entendem música como  cultura e educação e não só como um produto de consumo imediato.

Lamentamos profundamente daqueles que discordam e acham que papel não toca. Pode não ser música, mas trata-se de uma das formas de registrar  a história, o tempo e a vida. Não adianta ser uma pessoa adiante do seu tempo. Não será nada mais senão um visionário, e não terá vivido a história no tempo real.

A trajetória da espécie humana está descrita nas rochas, nas tábuas de argila, nos papiros, nos pergaminhos e , em época mais recente, nos livros, acetatos, fitas K7, vídeos CDs e DVDs ou outras formas de estocagem da informação. Sempre haverá a necessidade de registrar a arte para referência das gerações futuras.
Um exemplo dentre tantos milhares é o do guitarrista ítalo-americano Joe Pass , um gigante da interpretação jazzística que escreveu livros sobre sua técnica, além de deixar sua obra em material sonoro , mas necessitou de alguém para transcrever o que tocava. E, conhecemos a música de Beethoven por estar escrita pelo próprio Magnífico. Como seria o som que jorrou da orquestra e como foi absorvido pelo público que a ouviu pela primeira vez? Não sabemos. Isto é o que impulsiona a investigação acadêmica: um crítico escrevendo para algum jornal, alguém que traçou algumas linhas no próprio diário.

No passado estudamos com alguns professores de estrutura que eram inimigos do contraponto, mas depois de algumas décadas descobrimos que para escrever música "de época" teríamos que trabalhar com material teórico daquele mesmo período da história da música. Essa  descoberta nos faz pensar que somos tratados como simplórios por aqueles que seguem o exemplo da produção cinematográfica hollywoodiana e que ditou as normas ou regras para produtores e cineastas pelo mundo afora. Mas isto não quer dizer que Hollywood não tenha produzido gênios como o arranjador Nelson Riddle.

Um exemplo claro de como somos tratados como "coitados" está presente na trilha sonora do filme 1492: Conquest of Paradise (ESP/FRA/ING 1992 DIREÇÃO: Ridley Scott em http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=298). A música  lá, não é da época e sua função é dramatizar; constitui uma trilha impossível e improvável que não nos remete aquele período da História  da Espanha; e não  mostra-nos a música indígena que Colombo encontrou na ilha de Guanani , atual São Salvador , na América Central. Mas, se pesquisamos na biografia por ele ditada ao filho, quando no cárcere, é provável que possamos tirar algumas conclusões e que os produtores da citada película não nos apresentam.

O mesmo acontece no mercado publicitário cujos redatores insistem para que não façamos música com valor artístico mas, musiquetas para irritar, para ficar martelando na mente, para o consumidor lembrar do produto. Cerceiam o direito de produzir em troca de 30 moedas. O mercado publicitário trata o consumidor como gado.

Esse quadro, somado à manifestação espontânea da música de rua, deixou um vazio no conteúdo musical, portanto, no futuro essa arte pode não sobreviver, pois não houve música e compositores que a fizesse com relativa importância histórica. Alguém lembrará de alguma música do cantor 50 Cents daqui a duzentos anos? Ele está ai, sei quem é e não consigo lembrar uma música que o mesmo tenha feito, ou seja, 50 Cents faz música volátil que serve mais aos seus propósitos consumistas do que socializar sem radicalizar ou entreter e que constitui o verdadeiro objetivo da música.

Sobra , da música como a conhecemos em período anterior, o ritmo tribal que serve para o corpo entupir-se de adrenalina ou others little things. A  classe dos músicos está desaparecendo graças a estupidez da mídia e da alienação dos que  deixam-se levar como folhas soltas ao vento.

O homem é um ser social e, como tal, necessita viver em grupo, mas, incrível é querer assemelhar-se como todos os demais (fashion), onde um  representa a exata cópia do outro. Existem disputas para ver quem copia melhor. Que tragédia! Você poderia fazer sua música e mudar o rumo da nossa história, mas está preocupado em tocar o mais igual possível ao grupo , digamos , The Sucker's.

A pasteurização globalizada do ser humano faz com que os observadores de plantão consigam identificar uma baleia por seu rabo , mas, não uma pessoa numa danceteria high society ou em um club na favela de Heliópolis ou Complexo do Alemão. Hoje está difícil dizer quem é quem no cenário musical da cidade.

Todos são originados de uma mesma célula e produzidos em escala laboratorial ( com raras exceções).
A arte de rua serve como fonte de inspiração para a música maior de um povo e não para globalizar. Davi tentou, o papado da idade média tentou, Hitler tentou, os protestantes, os anglicanos tentaram, mas quem consegue resultados impressionantes são os meios de comunicação. Um amigo meu, o Artista Plástico Roberto Silva (também músico) informa que em recente pesquisa, atribuída a certa instituição, projetaram que 60% dos brasileiros acreditam, pasmem, na mídia*. Ela é que governa no Brasil.
Os valores que delinearam a arte mudaram e formando uma sociedade enfraquecida. A música de hoje revela que vivemos em uma época caótica, quase o mesmo que a época da inquisição em termos de produção qualitativa.



Aldo Landi - Verão de 2017 -  revisão
 aldolandi@hotmail.com

(*) Por: Raquel Landim

5- Países ricos reprovam produtos brasileiros

...a mídia foi a instituição de maior credibilidade, apontada por 64% dos entrevistados, seguida de empresas (61%), instituições religiosas (48%) e, por último, o governo, com apenas 22% de indicações.
Fonte: Valor Econômico
Foto gentilmente cedida por Maded